quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1º Capítulo


- 5, 6, 7, 8- e começa a música da Princesa Florine. Mais uma vez. Estava ensaiando a 4 horas seguidas. Sem pausa nem para beber água. Como Sr. James, meu coreografo dizia, as grandes bailarinas ensaiavam bem mais e se eu quisesse ser famosa no mundo da dança, teria que trabalhar muito.
Depois de ensaiar tanto tempo, ele me deu uma folga para que eu fosse ajudar minha mãe e minha prima com os preparativos da festa. A Fundação de Artes de Los Angeles faria 25 anos e como eu era prima da dona, ela e minha mãe achavam que eu tinha a obrigação de ajudar. Não era chato ajudá-las com a organização, isso sempre me livrava dos gritos histéricos de Sr. James. Mais a questão é que eu precisava ensaiar. Estava concorrendo a uma bolsa de estudos em Paris. Mais não era uma simples bolsa de estudos, era para estudar dança em Paris. Isso não acontece todos os dias. Estava ensaiando há meses a mesma coreografia, sem descanso, ia pra Fundação depois da escola e saia de lá só as 21:00. Era cansativo, mais eu esperava por essa oportunidade há muito tempo. Eu era o orgulho da Fundação. Todos ali me davam o maior apoio, pois ninguém havia conseguido passar na primeira fase de um programa de bolsas desse porte.
Minha mãe era a pessoa que mais me apoiava. Ela dançou ate o ultimo minuto que pode. Ela me contava que todos ficavam abismados de ela dançar grávida. Sua bolsa estourou enquanto saia do palco, depois de dançar o ballet da Princesa Florine, o mesmo que eu dançaria na competição. Talvez por isso eu gostasse tanto desse ballet. Talvez de tanto ouvir a minha mãe contar historias sobre apresentações que ela fez, e por ver como seus olhos brilhavam todas as vezes que falava a palavra ‘dança’, eu sempre sonhei em ser bailarina.
Comecei a dançar aos três anos de idade e depois disso não parei mais. Entrei pra Fundação com cinco anos, por passar tanto tempo lá, ela se tornou a minha segunda casa.
A única diferença em ser prima da dona, é que eu passo mais tempo ensaiando e sei de tudo o que se passa lá.
- Filha, que cor?- perguntou minha mãe enquanto pegava duas flores, uma amarela e uma vermelha.
- A vermelha é mais bonita
- Então vou encomendar as flores agora, com licença Sra. Mary- falou Diana, secretaria de minha prima
- Nem acredito que a Fundação vai completar 25 anos amanhã! Estou tão feliz.
- É verdade Mary, não vejo à hora de a festa chegar, preciso me divertir um pouco!- falei.
 Nos últimos três meses, eu não saia pra lugar nenhum. Festas, parques, praia, shopping, estavam totalmente cortados da minha lista. Minha prioridade era ensaiar. Não tinha momentos de lazer.
- Ah filha, mais vai valer a pena. Quando você conseguir a bolsa de estudos, vai poder comemorar!- falou minha mãe toda empolgada
- Isso mesmo prima! Eu e toda a Fundação temos muito orgulho de você! Eu tenho certeza que você vai conseguir! Ninguém, nem mesmo Rachel vai tirar esse premio de você!- falou Mary tentando me animar.
Rachel era minha rival. Ela sempre tentou ganhar de mim. Conseguiu uma vez, e desde esse dia vive se gabando. Ela iria concorrer à bolsa também.
-É verdade! Agora vá avisar Sr. James que você não vai poder ensaiar essas tarde, nos vamos comprar o seu vestido!
- Ta bom, vou ir avisá-lo- falei saindo da sala de Mary
Antes de ir falar com Sr. James, passei no vestiário para me trocar, pois ainda estava com a roupa de ensaio.
- Sr. James?- falei entrando na sala
- Ah senhorita! Pensei que não voltaria mais! Temos que voltar aos ensaios- falou virado de costas pra mim- Mais que roupa é essa?- falou finalmente virando para mim, e me olhando como se eu estivesse vestindo roupas de um mendigo.
- Hoje não vou mais poder ensaiar, vou comprar meu vestido.
- Sua mãe não pode comprar sem você?- perguntou
- Sr.James!- falei brava
- Ta bom! Vá logo antes que eu mude de idéia! Mais domingo quero você aqui as 8:00 da manhã, ouviu?
- Ta bom, tchau!- falei saindo da sala
 - Oii diva!- falou David, meu melhor amigo. Gay. Bailarino da Fundação.
- Oi Davi- falei indo em direção a ele
- O barango do James só te liberou agora?- ele perguntou e eu ri
- Era pra eu estar ensaiando ainda, mais a minha mãe me salvou. Vou ir comprar o meu vestido com ela!
- Ui, então vai lá, e compra um vestido bem bafo!
- Ta bom, to indo lá!- falei indo ao encontro de minha mãe que estava na porta principal me esperando.
- Vamos?
- Vamos- falei já dentro do carro
Chegamos à loja, era toda branca com detalhes em azul. Uma moça veio nos atender e levou-nos a parte de vestidos.
Já estava cansada do ensaio, então fiquei sentada esperando minha mãe pegar alguns para me mostrar. Curtos, longos, amarelos, verdes [me diz quem vai numa festa com um vestido verde!], rosas, azuis, brancos, roxos, vermelhos... Tinha vestido de tudo quanto é cor, mais nenhum me agradou. Decidi então eu mesma ir procurar.
Avistei um vestido preto, fui até ele e peguei para experimentar.
Sabe quando você se olha e parece nem se reconhecer? Estava me sentindo assim com aquele vestido. Era lindo. Acabei levando ele.
Chegamos em casa e eu fui direto para o meu quarto. Tomei um banho gelado, coloquei a roupa mais confortável que tivesse dentro do meu guarda-roupa e fui me deitar, acabei adormecendo.

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Acordei com o meu despertador, já era meio dia. Levantei e fui até a cozinha. Tomei café e fui ver TV.
Sentia meu corpo leve pela primeira vez no ultimo mês, eu finalmente havia descansado de tudo e de todos. Sem gritos, correções, criticas...
Eu amava dançar, sempre amei. Mais aquela rotina era muito puxada! Eu ia pra Fundação as 13:00 e fazia todas as aulas normais. Depois das 17:00 era só ensaio. Era a mesma rotina a mais de um mês. Eu acho que estava cansando daquilo. Precisava de uma motivação.
A bolsa de estudos? Sim era uma, mais eu precisava de alguma coisa maior!
Meus pensamento foram interrompidos por uma batida na porta.
Levantei num pulo e corri até a porta.
- OI VADIA!
- Oi bicha! Entra ai!- falei
- E então, vai assim toda baranga?- falou David sentando no sofá
- Pra onde?- perguntei sem entender
-Pra festa BAFONICA da Fundação, ou já esqueceu?
-AAH, ta! Pra festa.
- E então, vamos?- falou levantando
- Aonde?
- Nossa bitch,hoje você ta desligada ein! No salão de beleza! Pra vê se dá pra melhorar alguma coisa ai nessa sua cara de sono!
- Ai credo homi, quer dizer, muié!- falei e ele riu- Vamos sim, so vou trocar de roupa!
- Vai logo ein!
Eu até me arrumaria em casa, por que não sou dessas que pra tudo tem que sair e fazer aquele tipo de ritual magico, mais a festa era muito BAFONICA como ele falou.
Subi as escadas, peguei um short jeans, uma blusinha branca, uma sandália qualquer e fui.

Davi e eu passamos a tarde inteira no salão. É estranho falar assim né, ‘’Davi e eu’’ por que geralmente você faz isso com uma amiga. MULHER. Né mais enfim.
Depois, fui pra casa terminar de me arrumar. Conferindo: vestido, brincos, bolsa, maquiagem... Estava pronta.
Fui até a sala esperar a minha mãe.
Não deu nem tempo de sentar e ela já estava lá. Pontualidade, uma outra coisa que herdei dela.
-Que linda, minha mãe ta arrasando!- falei
- Você também esta linda filha! Vamos?
- Vamos!- falei indo em direção a porta


Chegamos à festa. Todos estavam lá, os funcionários, alunos, professores, pais, sócios, bailarinos de outras academias, companhias e fundações, coreógrafos... Muitas pessoas que eu tinha certeza que mamãe e Mary fariam questão de me apresentar.
Logo que entramos no salão principal, mamãe me arrastou para falar com uma mulher.
- Olá Sra. Christine, quanto tempo! Essa é minha filha, (seu nome)- falou mamãe cumprimentando a senhora ruiva de olhos azuis.
- Olá querida! Mais que moça encantadora!- disse Sra. Christine me dando um beijo na bochecha.
- Oi
- (seu nome), ela foi minha primeira professora de ballet!
Ela EXISTE?- pensei comigo.
- Ah, que legal! Desculpa, mais tem uns amigos meus me chamando ali, já volto!- falei saindo. Minha mãe me olhou com reprovação, mais não dei muita importância.
Saí em disparada ao encontro de meus amigos antes que minha mãe me chamasse.
Avistei um paletó roxo. Isso mesmo r-o-x-o. Quem mais além de David usaria um paletó roxo?
Ri sozinha daquela cena e cheguei mais perto.
- Ta arrasando bicha!
- Ui, você também. Mais fala a verdade, eu to lindo né!- falou fazendo cara de metido
- Bafonico!- falei e ele riu- Oi meninas!
- Oi (seu nome)!
- Gente, se vocês me dão licença, tem uns bofes ali, e acho que eles estão me querendo! Vou lá descobrir- falou saindo
- Ta bom, vai lá e boa sorte!- falei
-Então (seu nome), qual vão ser as novidades desse ano?- perguntou Luciana, minha amiga e bailarina da Fundação também.
- Que novidades?- perguntei confusa
- Qualé, todo ano Sra. Mary apronta alguma, e esse ano não seria diferente!- disse Alicia.
Agora seu comentário havia me feito pensar. Verdade, minha prima era conhecida por tentar novos métodos. E cada ano ela aprontava alguma coisa, mais o que seria nesse ano? Ela não havia comentado nada comigo.
- Não sei, ela não me disse nada. Mais se eu descobrir alguma coisa, falo pra vocês!
-Ok, ai eu estou tão ansiosa pra que as aulas comecem logo!
- Ah Lu, você ta ansiosa é pra ver os bailarinos gatinhos que vão entrar pra Fundação!
- Mais do que adianta, serem bonitos! Todos são gays!- falei e elas riram
Todos os anos havia audições para novos bailarinos. Isso sempre acontecia depois do aniversário da Fundação. Os bailarinos que já estavam lá tinham uma semana de folga ate as aulas serem retomadas.
Eu, Lu e Alicia ficamos conversando por algum tempo, até Mary vir desesperada falar comigo.
- (Seu nome)!!
- Que foi Mary?
- Olha pra pista de dança!- disse Mary me indicando o caminho
- Nossa, que paradona!
- É! Eu preciso da sua ajuda!
- Com o que?
- Faça as pessoas irem dançar, isso é uma festa de uma Fundação de dança e não tem ninguém na pista!
- Claro né, so toca musica de velho, quer dizer, já volto- falei indo na direção da mesa do DJ.
- Oi!
- Oi!
- E, você só tem esse tipo de musica é?
- Não, tem de todos os tipos!
- Dá pra colocar um que as pessoas conheçam?
- KKK, da sim!
- Ok, obrigada!- falei voltando na direção da Mary
-Pronto prima, seu problema está resolvido!
-Muito obrigada! Agora vem aqui que eu quero te apresentar uma pessoa!
- Mary, eu vou ao banheiro, quando eu voltar, você me apresenta!
- Ta bom, mais não demora!
Sai pela pista, agora cheia, tentando achar as meninas. Mais alguém me parou segurando o meu braço.
- Quer dançar?- falou um menino. Naquela hora, foi a única descrição que encontrei para ele, já que estávamos no meio da pista e lá estava escuro e cheio de fumaça.
Até aquela hora da festa, a parte mais divertida foi ficar conversando com as meninas. Eu precisava relaxar um pouco de toda aquela tensão.
Dançar com um desconhecido não era a minha idéia, mais era o que tinha na hora.
- Claro- falei.
Então, o desconhecido me guiou até o meio da pista, que naquela hora, era tomada por casais dançando.
Ele envolveu seu braço em minha cintura, e eu coloquei meu braço em seu ombro.
Começamos a dançar. Ual, ele dançava tão bem.
Percorríamos o salão todo, com os olhos fixos um no outro.
Enquanto ele me girava, pude perceber que os outros casais haviam saído da pista, e agora só nos observavam. Aliás, todos nos observavam mais naquela hora nada mais importava, aquela estava sendo a minha melhor dança em todos aqueles anos, e pior, com um completo desconhecido!
Mais dançar com ele estava sendo mágico. E olha que eu havia dançado com muitos outros homens, mais nenhum era como ele.
Eu me sentia segura em seus braços, me sentia leve.
Meus olhos voltaram a se encontrar aos dele. Olhos verdes, que brilhavam de uma forma encantadora.
Poderia ficar ali, dançando com ele para sempre. Nunca me senti daquele jeito antes.
Mais infelizmente a música terminou.
Antes que eu ou ele pudesse perguntar alguma coisa, alguém saiu me puxando para perto de umas mesas.
- (Seu nome)! Eu e sua mãe estamos te procurando a um tempão! Você me disse que não iria demorar.
-Desculpa, mais... - antes que eu pudesse inventar alguma resposta, Mary me interrompeu
- Quero que você conheça o novo professor da Fundação, Sr. Michael- falou
- Oi!- falei apertando a mão dele.
- Oi, é olha, podem me chamar so de Mike ok!
- Ok Mike!- falei e ele riu.
- Era você que estava dançando agora pouco?
- Era- falei envergonhada
- Nossa você estava muito bem, e quem era o garoto que estava dançando junto?
-Obrigada, mais eu não sei quem ele é- falei triste
- Que pena!- lamentou junto
- Mike, se me dá licença, vou apresentar (seu nome) a uns amigos
- Claro!

O resto daquela festa foi um saco, Mary me apresentando a pessoas estranhas, que tive que fingir que gostava, mais a verdade é que não parei um segundo de pensar no menino de olhos verdes.






Eaê gente, o que acharam? Um bom começo? Comentem! ;)

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